Letras de Segunda – Elofensas não apagam o brilho do vagalume

Ontem uma amiga me mandou um vídeo da Dra. Rosangela Terapeuta, um perfil de humor da internet, no qual o humorista interpreta uma terapeuta sempre pronta para dar bons conselhos adequados a uma vida politicamente correta: cheia de veganismo e de um amor exagerado aos animais e ao misticismo.  Geralmente,  gente que não é chata costuma rir das piadas – eu, por exemplo, rio sempre!

Eu sei que eu não sou chata, mas vou falar disso mais pra frente!  Por hora, voltemos ao vídeo da terapeuta.   Ela dizia que, muitas vezes, as pessoas só são capazes de nos elogiar trazendo, junto ao elogio, uma ofensa: “oh, não pensei que você fosse tão inteligente”; “nossa, que maravilha, tinha a certeza de que você não iria conseguir” ou o meu predileto “queria ser como você que não liga para a sua aparência”.  Todos esses “elogios” carregam ofensas muito claras a quem os recebe – que muitas vezes passam batidas para quem os escuta.

O elogio que mais tenho ouvido nos últimos meses é “Nossa, Aline, você é luz!”.  Acho legal ser luz, melhor que ser alguém apagado.  Escuro só é bom pra dormir, de resto, é assustador e sem graça.  Então, pensando assim, é melhor ser luz sempre.  Um dia, quando a minha luz se apagar de vez, talvez alguém sinta falta desse pequeno vagalume de 1.56m que passou pela Terra entre o final do século XX e a primeira metade do século XXI.   

Mas nem só de luz vive a minha existência!  Eu também recebo muitas elofensas e as mais comuns são sempre sobre a minha aparência ou o meu modo de viver a vida.  Ano passado, uma pessoa me disse assim: “nossa, Aline, agora você parece uma diretora da Justiça Federal e não uma doméstica como sempre” simplesmente porque eu derramei café na minha roupa e troquei a saia e camiseta que eu estava usando por um vestido durante o intervalo de um evento no qual eu estava trabalhando.  Outra coisa que eu escuto sempre é: “nossa, você é muito inteligente, mas antes de ler as coisas que você escreve, eu nunca imaginei isso”.  Ou o clássico: “Você realmente entende de futebol! Acho muito legal você torcer tanto para o Palmeiras.  Mas eu não perco meu tempo com coisas que não são importantes!”.  Eu sei que as pessoas não fazem por mal, mas quando a gente se dá conta das elofensas, temos que respirar fundo e nos agarrar ao que faz realmente sentido pra gente!

Apesar da recorrência dos relatos anteriores, a vida do vagalume, porém, também tem sua beleza.  Outro dia, estava no elevador do trabalho e um servidor entrou junto comigo.  Ele me disse assim: “Aline, é para você que eu tenho que mandar a minha história e os meus sonhos para serem publicados?”.  A Justiça Federal está com uma campanha cujo objetivo é incentivar os servidores e magistrados a contarem histórias vividas dentro da instituição.  Eu respondi para ele que não, que ele deveria enviar o seu relato para a Seção de Memória e, então, ele me respondeu: “ah, tinha certeza de que isso era coisa sua, porque aqui dentro só você cria essas campanhas nas quais a gente pode se sentir gente, se sentir parte de algo, se sentir vivo”.  Eu dei risada e agradeci: “foi o melhor elogio que alguém me fez nos últimos tempos”.  E, de fato, foi algo realmente bonito!

Eu não sou uma influencer e nem tenho a pretensão de ser reconhecida por algo extraordinário.  Eu sou uma mulher comum, com problemas que todo mundo tem.  Mas gosto de pensar que, de alguma forma, esse meu jeito simples tem me levado mais longe do que eu poderia imaginar.  Este vagalume se sente muito feliz por ser visto como um ser que é capaz de iluminar sonhos e com um bom ouvido para ouvir boas histórias.  Se sente incrível quando, com sua luz, consegue arrancar sorrisos bonitos e dar os melhores abraços.  Se existe uma vocação, a deste vagalume é dar espaço para que as coisas belas – e os elogios sinceros – tenham seu lugar no mundo!  

Talvez o segredo da felicidade esteja em não depender de elogios para ter uma vida repleta de sentido.  Mas confesso que, quando eles são verdadeiros, eles realmente melhoram o nosso dia.  

E você, é capaz de fazer um elogio sincero a alguém?

Autor: Aline Soares

Meu nome é Aline, sou paulistana, escrevo esse blog porque cheguei aos 30 há uns anos atrás e preciso construir memória do que foi minha vida, antes que a minha história se perca de mim. Hoje tenho quase 40 e adoro olhar pra trás e perceber que eu já consegui resolver muitos problemas escrevendo, embora pensar e escrever tenha me trazido tantas questões novas. Essa é a vida... pouco importa o que eu tenha feito de bom ou ruim. Enquanto eu registrar minhas memórias serei eterna - pra mim e pra quem se importa! Vivo por música, falo através de letras de música e acredito que Deus um dia vai me levar para morar em um lugar incrível, onde o pôr-do-sol seja sempre maravilhoso. Casablanca é desde sempre o filme da minha vida, talvez porque debaixo do meu verniz de cinismo, eu seja só uma sentimental guiada pela sonora resposta de Bogart ao pé do avião: "Nós sempre teremos Paris"

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