Letras de Segunda – Sonho, charuto e Nelson Rodrigues em uma manhã de domingo

Essa noite eu sonhei com você e queria bem mais que sonhar…

Amor e Amizade – Exaltasamba

Mentira, não queria que aquele sonho se tornasse realidade… é estranho, mas existem sonhos que são tão reais que chegam a ser assustadores – e, apesar de não serem pesadelos, esse foi um deles! Então, vou dividir por aqui para que um dia eu me lembre desse tempo em que sonhava todas as noites.

Estava em São Paulo, em um bairro residencial.  De longe, eu via uma fumaça preta saindo de uma casa.  Eu conhecia aquela casa, eu já estive lá algumas vezes.  Uma escada íngreme ligava o portão à casa de cima.  Eu estava à pé e me lembrei de que uma mala minha estava no quarto de cima.  Eu tinha que ir buscá-la, afinal ela não poderia pegar fogo, porque eram as minhas coisas que estavam ali.

Zero pra mim, não se entra em uma casa pegando fogo para salvar uma mala!

Enquanto via a fumaça, me lembrei de Jack, um dos protagonistas de This is Us que morreu queimado ao tentar salvar seu cachorro de um incêndio em sua casa e falei para mim mesma:

Aline, um cachorro vale mais que uma mala… Mas é a sua mala rosa, vai lá que nada de mal vai acontecer com você!

E lá fui eu.  Enquanto subia as escadas, percebi que o incêndio era proposital, já que a pessoa que morava na casa jogava ao fogo todos os seus móveis.  Um sofá preto, uma série de panos.  Tive a impressão de que ela mesmo se jogaria ao fogo a qualquer momento, tamanho era o seu empenho em queimar tudo.  

Corta! 

Na próxima cena, eu já estou em uma grande avenida dirigindo o meu carro em uma grande subida.  Encontro minha irmã, que diz que meu pai está ainda na casa de um amigo meu, que nos recebera a todos para um jantar na noite anterior.  

Ué, a festa foi na casa dele, mas eu não o vi no sonho.  Flashes de memória aparecem na cena enquanto eu dirijo (meu sonho tem efeitos especiais tipo aqueles que tinham nas fotos de abertura daquela novela famosa, Avenida Brasil): vejo meu pai, minha irmã, meus filhos, meu sobrinho e uma amiga sentados numa mesa comendo uma pizza.  Ouço a voz do meu amigo na cozinha, e aí confirmo que ele não apareceu mesmo no sonho, mas estava ali presente no plano de fundo da cena.  

Volto para o presente do sonho.  Me dou conta de que é preciso fazer um retorno na avenida. Uma menina, que eu conheço, se joga na frente do carro e me obriga a pará-lo.  Enquanto ela entra no carro, eu ligo para o meu pai e meu amigo me passa o endereço da casa dele.  Como eu tinha estado lá e não sabia o endereço? Coisas de sonho.  

Pai, segura aí que daqui a pouco eu chego para te pegar.  

Coloco no Waze o endereço.  O Waze me dá bom dia e me diz que eu chegarei ao meu destino no tempo certo.  Ligo o carro.  Volto a dirigir.  E acordo.

Ao acordar, pego o celular para olhar as horas.  São 5:03 da manhã.  Lá fora, tudo escuro ainda, só vejo a imagem do gato sentado na beirada da janela.  Enquanto tento abrir os olhos, me dou conta de que fui dormir super cedo ontem e que dormira direto por quase 9 horas.  Fazia tempo que não dormia tanto tempo.  O barulho do ventilador me incomoda, mas está tão calor que não dá para desligá-lo.

As três primeiras pessoas que aparecem na listagem dos stories do meu instagram são minha irmã, meu amigo e minha amiga que estavam presentes no sonho. Mando coraçõezinhos nos stories deles. Parece que eles vieram mesmo me visitar enquanto eu dormia.  Me lembro da pessoa que queimava os móveis e a casa.  Me questiono se eu deveria tê-la impedido de fazer isso.  Me lembro de que eu tentei por muito tempo e que, ali no sonho, eu já sabia que não tinha como fazer isso.

É muito cedo, Aline, hoje é domingo, volte a dormir.  

Fecho os olhos.  Quando os abro novamente, o dia já clareou.  

Que sonho louco! Tomara que eu me lembre dele depois que voltar da missa!  Nossa, choveu! Vou passar um café e tomar lá no quintal aproveitando o ventinho.   Tantos simbolismos nesse sonho.  Vou acender um charuto para fumar enquanto eu escrevo.  Vejo a imagem de Nelson Rodrigues.  Aline, largue de ser presunçosa.  Ah, é um cubano.  Sorrio.  Não tenho máquina de escrever, mas vale o computador mesmo.  Acendo o charuto.  Não me esqueci do sonho.  Ponto pra mim.

Ponto final.

Autor: Aline Soares

Meu nome é Aline, sou paulistana, escrevo esse blog porque cheguei aos 30 há uns anos atrás e preciso construir memória do que foi minha vida, antes que a minha história se perca de mim. Hoje tenho quase 40 e adoro olhar pra trás e perceber que eu já consegui resolver muitos problemas escrevendo, embora pensar e escrever tenha me trazido tantas questões novas. Essa é a vida... pouco importa o que eu tenha feito de bom ou ruim. Enquanto eu registrar minhas memórias serei eterna - pra mim e pra quem se importa! Vivo por música, falo através de letras de música e acredito que Deus um dia vai me levar para morar em um lugar incrível, onde o pôr-do-sol seja sempre maravilhoso. Casablanca é desde sempre o filme da minha vida, talvez porque debaixo do meu verniz de cinismo, eu seja só uma sentimental guiada pela sonora resposta de Bogart ao pé do avião: "Nós sempre teremos Paris"

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