Estava pensando outro dia que a gente costuma celebrar muito os começos, mas tanta vezes se recusa a contemplar com carinho os fins. E assim como a alegria de um começo, de uma descoberta é um sentimento que pertence só a nós, mesmo quando temos a ilusão de compartilhá-lo, o fim também é solitário e dessa forma deve ser visto e vivido.
Outro dia, eu abracei longamente alguém que eu amo. E eu senti que aquele era o último abraço de algo que eu vivi intensamente na minha mente e no meu coração por algum tempo. E na hora em que aquele abraço terminou, eu senti como se deixasse ali, naquele pequeno instante, uma parte de mim que foi consumida da mesma maneira que um punhado de lenha é consumido pelo fogo e se transforma em cinzas enquanto aquece um ambiente.
“É tudo real nas minha mentiras”, como canta o Leoni nos versos da música que me fez entender que há beleza em se deixar consumir e que isso foi necessário para me encher de vida pelo tempo em que essa vida, por tantas e tantas vezes, faltou em mim. Muitas vezes, durante o tempo que me trouxe até esse abraço, eu me culpei, tentei me convencer de que eu era idiota, de que eu era uma imbecil completa por alimentar algo que só existia na minha cabeça, numa grande ficção de amor.
E foi simbólico esse abraço de fim tenha se dado numa data que, por muitos anos, foi festiva por ser o marco de um começo. O que seria da alma humana se não acreditássemos que o final será sempre feliz? Só suportamos a existência porque temos a esperança de que as coisas darão certo no final. Mas quem disse que algo que se consome e se transforma em outra coisa não é um final feliz? A resposta está no fato de que, quase sempre, a nossa alma é limitada e pouco criativa para enxergar além do óbvio.
E às vezes no terminar, no se consumir, se encontra o tão desejado final feliz. Em uma cena de Melhor é Impossível – sobre a qual eu já escrevi um texto há alguns anos – Jack Nicholson diz que nem todos nós somos feitos de histórias de dias felizes e saladas de macarrão. E quer saber? Está tudo bem que seja assim!
Eu te imagino, eu te conserto
Eu faço a cena que eu quiser
E entre cenas de finais e começos, a gente sobe e desce dos trens que nos levam ao nosso destino. Talvez a nossa felicidade esteja em continuar seguindo, mesmo sem ter total conhecimento do nosso trajeto e do que nos acontecerá à frente. Ao mesmo tempo que o desconhecido assusta, ele é poderoso em nos encher de esperança.
Talvez o meu maior aprendizado na jornada que me levou até aquele abraço é que a vida sempre se impõe quando nos deixamos surpreender por ela! E eu vou carregar aquele melhor abraço do mundo por todo o sempre, dentro de uma alma já tatuada por aquele sentimento.
O que eu quero agora? O que eu vou fazer? Eu não sei… E agora, no fone, numa daquelas deliciosas coincidências da vida, os versos que podem ser a voz de Deus me dando uma pista:
Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
É, que sempre, sempre e sempre exista amor pra recomeçar. Para todo o sempre!